Após denúncia de corrupção na aprovação de ativos altamente tóxicos, gerente geral de toxicologia da Anvisa foi demitido
Luís Cláudio Meirelles foi exonerado do cargo de gerente geral de toxicologia na Anvisa, após ter denunciado graves irregularidades na liberação de produtos sem avaliação toxicológica, a falsificação da sua assinatura e desaparecimento de processos que estavam em situação irregular.
Os agrotóxicos liberados irregularmente tinham como destino a ferrugem na soja, ou seja, estavam ligados diretamente aos interesses do chamado agronegócio, que é a aliança entre as multinacionais imperialistas e o setor mais reacionário da burguesia brasileira, os latifundiários.
A pressão das multinacionais para a liberação de agrotóxicos e transgênicos, sem testes nem avaliações adequados, têm aumentado nos últimos cinco anos, com o objetivo de colocar no País produtos altamente danosos para a saúde humana que não conseguem ser desovados nos países desenvolvidos.
Após o segundo governo Lula ter criado a CNTBio, que, entre outras medidas, liberou mais de 35 sementes transgênicas sem testes, a pressão se centrou na Anvisa, a Embrapa e o Ibama.
Entre os produtos liberados estão o Locker, que é um fungicida usado na soja, produzido pela multinacional FMC, e o inseticida Diamante BR, da multinacional Ouro fino, que o ano passado foi acusada de emprestar um jatinho para o então Ministro da Agricultura Wagner Rossi.
Na carta escrita por Meirelles, estão detalhadas as irregularidades, com anexo das provas de avaliação toxicológica, que mostram que os produtos foram liberados sem a devida analise toxicológica. E avisos não faltaram. Segundo Meirelles, foram informados o
Chefe da Coordenação de Segurança Institucional (CSEGI), que também é Diretor-adjunto do Diretor-Presidente, e ao Diretor da Diretoria de Monitoramento (DIMON). Também foram emitidos ofícios para as empresas envolvidas, suspendendo o Informe de Avaliação Toxicológica concedido pela GGTOX/Anvisa, bem como determinando, em alguns casos, que se abstivessem de comercializar o produto até que as irregularidades fossem apuradas e sanadas. Meirelles também encaminhou os ofícios ao Ministério da Agricultura, com cópia para o Ibama, notificando as decisões e solicitando as medidas adequadas. Foi solicitado à Gerência Geral de Tecnologia da Informação-GGTIN, cópia do backup de todos os documentos da pasta da GGTOX que ficam no servidor da Anvisa.
Foram encaminhados outros processos administrativos internos, após o que foi demitido.
As tentativas de retirar competências da Saúde para desregulamentar o controle de agrotóxicos no Brasil
Segundo Meirelles, o caso de sua exoneração não deve ser considerado um mero acaso, pois, por trás da exoneração, existe a tentativa de desregulamentar o mercado de agrotóxicos no Brasil.
A situação é muito grave, pois vale lembrar que os princípios desses ativos são extremamente graves para a saúde humana e o meio ambiente. Na origem estão o Zyklon-B, usado nas câmaras de gás nazistas, e o agente laranja, usado em larga escala na guerra do Vietnam. Na década de 1974, com a chamada «Revolução Verde», o versão neoliberal para a agricultura, esses produtos foram direcionados para a obtenção de altas taxas de lucros em cima do monocultivo e as patentes, praticamente acabando com as sementes criolas e a contenção de pragas por métodos naturais, conforme tinha sido feito até então.
O primeiro passo é retirar ou «flexibilizar» a competência da ANVISA. E que muitos funcionários da ANVISA vem lutando contra esse retrocesso. Dentre essas medidas, o projeto de Lei – PL n˚ 6299/2002, ao qual foram apensados outros PLs (PL 3125/2000, PL 5852/2001, PL 5884/2005, PL 6189/2005, PL 2495/2000, PL 1567/2011; PL 4166/2012; PL 1779/2011, PL 3063/2011 e PL 1567/2011), que estão tramitando na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal, retiram competências da Anvisa e do Ibama nas avaliações de agrotóxicos.
A resistência de uma parte importante dos trabalhadores da Anvisa tem dificultado a tentativa do governo de estruturar uma «Agência Nacional de Agroquímicos», desqualificando a Consulta Pública 02, de 2011, oriunda da revisão da Portaria 03, de 1992, e que estabelece critérios cientificamente atualizados para a avaliação e classificação toxicológica de agrotóxicos. Durante o período da consulta pública, as multinacionais chegaram a tentar impor que a revisão fosse suspensa.
Para inviabilizar o trabalho da Anvisa tem sido permanentes o impedimento da reavaliação de agrotóxicos ou de reversão das decisões já adotadas, através das constantes pressões políticas e demandas judiciais. Adicionam-se as pressões para a flexibilização da legislação, com o intuito de permitir a criação de normas
que autorizem as alterações de composição e o reprocessamento de produtos, sem critérios técnicos fundamentados.
Desde 2008, o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, chegando a 1 bilhão de litros jogados em nossas terras, além de ser vice-campeão mundial no consumo de transgênicos. É evidente a política dos governos do PT de total submissão e entreguismo para as multinacionais lucrarem em cima da exploração e da saúde da população.