SAÚDE
Cabelos lisos, macios e mais agilidade ao se arrumar para sair de casa têm sido as principais razões que levam mulheres aos salões de beleza em busca das sonhadas escovas progressivas. Para Andrezza Felippe, vendedora de 29 anos, não foi diferente.
Almejando praticidade em seu dia-a-dia, além de um visual mais sofisticado, ela não pensou duas vezes antes de se submeter ao procedimento, mas os resultados não foram os esperados e, logo após a aplicação, seus cabelos começaram a cair.
O caso não é isolado e se soma a muitas outras queixas feitas ao Disque Pirataria (0800 282 6582) e ao Disque Defesa do Consumidor (0800 282 7060) da Alerj. Por conta delas, o Estado do Rio já conta com duas leis, de autoriados deputados Dionísio Lins (PP) e Cidinha Campos (PDT), que atentam para a proibição do uso de produtos químicos, tais como formol, em todos os salões de beleza e para efetivação das escovas progressivas e similares.
Presidente da Comissão de Combate à Pirataria da Casa, Lins, que foi procurado por Andrezza, é o responsável pela formulação da Lei 5.421/09, que proíbe o uso da substância nos salões.
A vendedora conta o que relatou para o Deputado: “Disse para ele que fui a um salão na zona Sul do Rio e, duas horas após o término do tratamento, comecei a perceber uma queda acentuada dos meus cabelos. Fiquei desesperada e logo fui procurar um dermatologista”. A experiência da vendedora ocorreu há quatro anos, mas ainda hoje seu cabelo não tem força para crescer. “Minha sorte é que só os fios do cabelo foram afetados, mas não a raiz. A partir de agora terei mais cuidado com os produtos que utilizarei e não tenho mais coragem de usar formol”, garante a vendedora.
O autor da lei ficou preocupado com as denúncias que chegavam ao serviço telefônico gratuito da comissão, pois muitos davam conta de queimaduras e alergias sérias provocadas pelo uso do formol. “As pessoas ligavam para o disque porque achavam que os produtos usados nos salões eram pirateados e, conforme o número de queixas foi aumentando, fiz vistorias para saber o que realmente acontecia. Foi aí que descobri o uso do formol fora dos padrões permitidos e seguros”, argumenta o parlamentar, destacando que o uso indiscriminado do produto pode levar a fortes alergias e até mesmo à morte.
Além de impedidos de utilizar o produto, os salões de beleza e centros de estética também terão que afixar cartazes divulgando a proibição e os males que o uso do formol pode acarretar em tratamentos capilares. Esta outra vitória do consumidor foi conquistada pela presidente da Comissão de Defesa do Consumidor da Alerj, deputada Cidinha Campos (PDT), através da Lei 5.409/09.
De acordo com a parlamentar, ao pesquisar sobre o assunto, ela notou que já existiam normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) regulamentando a matéria (ver box) . “Por isto considerei importante criar esta lei para alertar os clientes que ainda pudessem estar desavisados sobre todos os prejuízos que este produto pode causar à saúde”, explica a pedetista. A gerente-geral de Cosméticos da Anvisa, Josineire Sallum, ressalta que o formol só pode ser utilizado em cosméticos na função de conservante e endurecedor de unhas. “Para estes fins, as concentrações máximas seriam de 0,2% e 5%, respectivamente, valores que não dão efeito alisante”, afirma Josineire.
A gerente explicou ainda que tanto os consumidores quanto os profissionais de beleza devem prestar atenção Comissões de Combate à Pirataria e de Defesa do Consumidor recebem queixas contra o uso de formol em salões de beleza
Marcela Maciel e Vanessa Schumacker
Fotos: Rafael Wallace
Cabelos
Mesmo após quatro anos, o cabelo da
vendedora Andrezza
Felippe ainda não
recuperou a força
Rio de Janeiro, de 1º a 15 de abril de 2009
5
ao adquirir um produto. “Tudo o que
for registrado pela Anvisa possuiu concentração
de formol dentro dos limites
previstos legalmente, mas há que se
ter cuidado com os artigos que não
forem registrados. Como a composição
que eles trazem não é avaliada, podem
representar perigos aos que usam e
também àqueles que o manipulam”,
destaca, lembrando ainda que existem
outras substâncias registradas na
Anvisa que podem ser utilizadas para
alisamentos capilares. “O tioglicolato de
amônio, hidróxido de sódio, hidróxido
de potássio, hidróxido de cálcio, hidróxido
de lítio e o carbonato de guanidina
são alguns deles”, exemplifica.
Ao adquirir um produto para alisamento
sem prestar atenção na sua
composição ou mesmo no preço, o consumidor
pode ter um grande prejuízo
não só na saúde, mas também no bolso.
Este foi o caso da esteticista Maria das
Graças Oliveira, que comprou um kit
de escova marroquina profissional, no
valor de R$ 220,00. Ela conta que, embora
tenha recebido uma determinada
informação sobre a composição máxima
da substância no produto, seu médico
garantiu que os valores estavam errados.
Após utilizar a substância em casa,
a esteticista teve fortes alergias e queda
de cabelo. “A reação desencadeada não
queria curar, e eu sentia até minha
garganta e os meus olhos queimarem.
Tive febre alta e precisei fazer um tratamento
com acompanhamento médico”,
afirma. “Tenho costume de testar em
mim os produtos que usarei nas clientes
e, muitas delas, são alérgicas. Tenho
certeza que boa parte passaria mal”,
avalia a esteticista.
Para o coordenador de Departamento
da Sociedade Brasileira de Dermatologia
no Rio, Egon Daxbacher, a proibição
é a melhor saída para o problema. “Já
tive pacientes que chegaram ao meu
consultório com irritação no couro
cabeludo devido ao uso do formol e, se
não tivessem me procurado, o problema
poderia ter evoluído para uma alergia
mais séria. Há alergias nos olhos e no
sistema respiratório que também podem
apresentar riscos para a saúde de
quem utiliza,” acrescenta Daxbacher.
Embora tenha muitos defensores,
a lei que impede o uso da substância
também é criticada por alguns setores.
O Sindicato dos Institutos de Beleza e
Cabeleireiros do Estado do Rio, por exemplo,
acredita que a nova norma poderá
fortalecer o uso irregular do formol. “Os
salões estão cumprindo a regra, mas há
muitos clientes que não querem deixar
de usar o formol e acabam convencendo
o profissional a fazer o procedimento
em suas casas,” frisa a presidente do
sindicato, Esther Gomes, destacando a
necessidade de se fazer um amplo trabalho
de conscientização também entre os
consumidores. “Quando atingirem todos
os envolvidos, aí sim, o uso do formol será
abolido de vez”, aposta. Para
garantir o
cumprimento da lei nos salões, no entanto,
a norma já definiu um critério: as
prefeituras de cada município deverão
fiscalizar os estabelecimentos e, em
caso de desrespeito, as punições serão
definidas pela Anvisa e pelas vigilâncias
sanitárias de cada município.
Segundo a deputada Cidinha
Campos
(foto)
, a norma da Anvisa
alerta para os riscos do formol e adverte
sobre algumas das possíveis
reações à substância:
• Contato com a pele: a subs
tância
é tóxica e pode causar irritação
na pele, com vermelhidão,
dor e queimaduras.
• Contato com os olhos: causa irritação, vermelhidão, dor, lacrimação e visão embaçada. Altas concentrações causam danos irreversíveis.
• Inalação: pode causar câncer
no aparelho respiratório. Tem como
possíveis reações dor de garganta,
irritação do nariz, tosse, diminuição
da frequência respiratória, irritação
e sensibilização do trato respiratório.
Pode ainda causar graves ferimentos
nas vias respiratórias, levando ao
edema pulmonar e à pneumonia.
Fatal em altas concentrações.
• Exposição crônica: a frequen
te
ou prolongada exposição pode
causar hipersensibilidade, levando
às dermatites. O contato repetido
ou prolongado pode causar reação
alérgica, debilitação da visão e aumento
do fígado. No caso da escova
progressiva, dependendo da concentração
do formol, pode ainda causar
queda capilar.
Quem quiser entrar em contato
com a Anvisa para fazer reclamações
pode ligar para o Disque Saúde (0800
061 1997) ou para o Disque Intoxicação
(0800 722 6001). Os consumidores
que quiserem denunciar algum estabelecimento
ou produto podem ligar
para Disque Pirataria da Alerj (0800
282 6582) ou para o Disque Defesa
do Consumidor da Alerj (0800 282
7060). Ambos funcionam de segunda
à sexta-feira, das 10h às 18h.
a salvo
“
As pessoas tinham
problemas e ligavam para
o Disque Pirataria achando
que os produtos usados nos
salões eram falsificados
”
Deputado Dionísio Lins (PP)
Anvisa adverte
Fonte: Jornal da Alerj 01/04/2009 (ver foto con t)