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Que lê a notícia pensa que outros partidos políticos seriam mais honestos. Devemos  lembrar que o  ingresso das agências reguladoras, sem adaptações às realidades brasileiras – com autonomia para favorecer laboratórios e explorar 200 milhões de consumidores sem direito à justiça – é uma herança nefasta da política neoliberal de Fernando Henrique Cardoso.

Newton Lima, padrinho de diretor da Anvisa, pediu ajuda a laboratórios; setor quer rever portaria da agência

Deputado recebeu do setor R$ 279 mil; norma polêmica cria selo para caixas de remédio, o que eleva custo da indústria

Laboratórios farmacêuticos contribuíram com doações de R$ 140 mil para ajudar a quitar dívidas de campanha do deputado eleito Newton Lima Neto (PT), ex-prefeito de São Carlos (SP).

A ajuda foi pedida no dia 26 de outubro, durante almoço com representantes do setor em seminário organizado pelo Sindusfarma (Sindicato da Indústria Farmacêutica do Estado de São Paulo).

No almoço também estava o diretor da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) Dirceu Barbano, que trabalhou com o petista Lima na Prefeitura de São Carlos e chegou à agência por indicação do amigo, há um ano.

Os R$ 140 mil doados pelos laboratórios pingaram na última semana de outubro, após o almoço. Somadas doações feitas antes, Lima recebeu R$ 279 mil do setor.
Newton Lima não tem ligação histórica com a indústria. Sua principal base eleitoral é a área de educação.

As doações de outubro foram feitas dias depois de os laboratórios receberem sinais de que uma decisão que causara grande contrariedade na indústria entre o primeiro e o segundo turno da eleição presidencial poderia ser reavaliada pelo governo.
Um dos empresários que conversaram com Lima no dia 26 disse à Folha que o ex-prefeito mencionou um rombo de R$ 400 mil que precisava cobrir e pediu ajuda para contatar outros doadores.

A pressa do petista em angariar o que faltava para quitar a campanha se explicava pelo prazo final para prestação de contas fixado pela legislação eleitoral, que acabava em 2 de novembro.

QUEDA DE BRAÇO
Representantes da indústria que falaram com Barbano nas últimas semanas disseram à Folha que ele prometeu ajudá-los numa queda de braço que as empresas travam há meses com a agência, principal órgão responsável pela fiscalização do setor.

Com o objetivo de combater a falsificação de remédios e outras fraudes, a Anvisa criou um selo de segurança que precisará ser afixado em todas as caixas de medicamentos vendidas no país.

A indústria é contra a iniciativa, por considerar os custos envolvidos em sua implantação muito altos. Associações que representam o setor estão estudando a possibilidade de ir à Justiça para tentar derrubar a medida.

Logo depois do primeiro turno, o presidente da Anvisa, Dirceu Raposo de Mello, anunciou que publicaria uma instrução normativa definindo prazos para adoção do novo selo, mas a publicação só ocorreu no último dia 3, após o segundo turno.
Nas semanas que separaram o anúncio e a publicação, executivos da indústria pediram ajuda a autoridades e falaram com Barbano.

O diretor indicado por Newton Lima é visto no setor como forte candidato a ocupar a presidência da Anvisa depois que o mandato de Raposo terminar, em janeiro.
Segundo representantes do setor ouvidos pela Folha, no dia do seminário Barbano disse que também estava preocupado com os custos criados pelo novo selo e sugeriu que a indústria esperasse o fim da eleição para que a questão pudesse ser reexaminada.

Nos dias seguintes ao encontro, Lima recebeu doações do presidente do Sindusfarma, Omilton Visconde Júnior (que doou como pessoa física e cuja empresa já havia contribuído), e de quatro laboratórios, Biolab, Cristália, Eurofarma e Hebron, todos de capital nacional.

A instrução normativa foi publicada uma semana depois, sem sofrer revisões.
O ex-prefeito tivera apenas um contato com as empresas do setor antes disso. Em junho, ele visitou o Sindusfarma com o senador Aloizio Mercadante (PT), que concorreu ao governo estadual neste ano e também recebeu doações de laboratórios.

Em setembro, Lima convidou vários executivos do setor para um jantar de arrecadação de fundos em São Paulo. Seis fizeram contribuições na ocasião, no valor total de R$ 39 mil. Barbano também foi ao jantar e deixou na mesa um cheque de R$ 500.

O deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), visto no setor como responsável pela indicação de Raposo para a presidência da Anvisa, recebeu R$ 825 mil em doações da indústria farmacêutica. A maior parte dos recursos entrou em sua conta em setembro.

RICARDO BALTHAZAR
DE SÃO PAULO

Fonte: Folha de S.Paulo 13/11/2010